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Foto do escritorJoão Pedro

A MENTE EXTENDIDA

Mente estendida: conectar além do cérebro e da pele

O conceito de mente estendida parte de uma teoria filosófica muito reveladora e interessante. De acordo com esse princípio, a nossa mente não reside apenas naquele universo neural contido e delimitado pelo cérebro. A essência dos nossos pensamentos, criatividade, emoções e desejos também se expande entre as pessoas. Dessa forma, moldam as relações sociais, a cultura, a linguagem, a tecnologia…

A hipótese da mente estendida, como podemos intuir neste breve esboço, pode parecer algo radical e até difícil de acreditar. Assim, para uma boa parte dos psicólogos, por exemplo, todo processo cognitivo é basicamente o resultado de um processo bioquímico. As pessoas recebem estímulos, os processam naquele órgão fabuloso que é o cérebro, e então emitem algumas respostas (comportamentos).

Esta abordagem materialista ou baseada no monismo neurológico não aceita que a mente exceda os limites estabelecidos pelo próprio crânio. Agora, na sua época, Descartes já falava sobre outra possibilidade. O famoso filósofo, matemático e físico francês dizia que corpo e mente eram duas dimensões diferentes e completamente separadas uma da outra.

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Atualmente, essa premissa deu um passo adiante para nos convidar a uma reflexão interessante. Tanto os filósofos quanto uma área proeminente da psicologia social entendem que a mente não habita apenas esse território constituído por um organismo e uma rede neurológica.

A mente e os sistemas cognitivos se expandem, avançam e se conectam, com um propósito muito específico: moldar o nosso mundo social, as nossas interações e as nossas criações.

“Mindware é o conjunto de todos os recursos que constituem uma mente… Para mim, a mente humana é uma mistura de coisas neurais, corporais e até mesmo extracorpóreas”. – Steven Pinker –

A mente estendida: quando os nossos pensamentos vão além da nossa pele

A ciência psicológica mais clássica compreende que todo processo cognitivo é intracraniano. Em outras palavras, a nossa mente reside naquele cubículo interno. No entanto, a sociedade e o mundo encontram explicações em um cenário diferente. A teoria da mente estendida não a vê dessa maneira.

Aceita, no entanto, que todo pensamento, reflexão, desejo, criação e motivação do cérebrohumano não permanece ali. Além disso, a função da mente é emergir para interagir com o ambiente para criá-lo e lhe dar sentido.

Derrubando os limites mentais

A teoria da Mente Estendida surgiu no final dos anos 90, através da filósofa Susan Hurley. Esta professora da Universidade de Bristol revolucionou grande parte do mundo acadêmico com seu trabalho ‘Consciência em ação’.

Nele, ela criticava o esquema clássico da psicologia cognitiva, em que a mente é entendida como aquela entidade que é limitada ao processamento de estímulos (inputs) e à emissão de respostas (outputs).Mais tarde, os estudos dos filósofos da Universidade de Oxford, Andy Clark e David Chalmers, bem como o livro Supersizing the Mind, publicado em 2008, finalmente estabeleceram a teoria da mente estendida.Assim, a principal premissa que começou nos anos 90 é de que devemos derrubar a ideia clássica de que a mente humana reside apenas em nossas cabeças.

Temos que ir além desse limite, evitá-lo, ousar enxergar além para ampliar as nossas perspectivas. Dessa forma, entenderemos como o nosso mundo e a sociedade são verdadeiramente constituídos.

Mindware, as ferramentas mentais que vão além do cérebro

Mindware é um novo conceito dentro das ciências sociais que vale a pena conhecer. Este termo inclui o conjunto de recursos que compõem a mente humana. Nela, existem processos neurológicos, corporais, bioquímicos e também extracorpóreos.

O que queremos dizer com esta última ideia?

A teoria da mente estendida nos convida a entender que a mente pode contratar um “software” externo para agir fora do nosso corpo.Podemos, por exemplo, usar livros e tecnologia, podemos nos conectar com outras pessoas para aprender com elas… Porque todos esses processos também são exemplos dos nossos processos mentais, aqueles que nos fazem crescer, aprender, evoluir como um grupo social.De acordo com essa teoria, o organismo humano está sempre ligado a entidades externas formando uma interação bidirecional.É, portanto, um “sistema acoplado”, no qual partimos de processos cognitivos internos para alcançarmos aquele ambiente que nos cerca para atingirmos um objetivo: aprendizado, relacionamentos, experiências…Esta ideia, por si só, é básica para o desenvolvimento infantil. A criança expande a sua mente para se conectar com o seu ambiente, com aqueles que nele habitam e com qualquer fenômeno que acontece ao seu redor.

A mente estendida e a inteligência artificial

Há uma parte da comunidade científica que não aceita nem vê com bons olhos a teoria da mente estendida. Esse externalismo cognitivo é desconfortável porque coloca o universo da consciência além do nosso corpo. Além disso, nos afasta daqueles limites que todos nós acreditamos que podemos controlar.

Assim, determinadas correntes da filosofia e também da neurociência acreditam que em breve teremos unidades cognitivas portáteis.

Seriam implantes neurais que nos dotariam de certas habilidades para as quais não seria necessária uma experiência ou um aprendizado prévio. Eles seriam “unidades mentais” externas para instalar em nossa mente como parte de um software com o qual seríamos mais eficientes.

Por sua vez, tudo isso nos remete ao que a professora da Universidade da Califórnia, Donna Haraway, nos explicou em 1983 com seu Manifesto Cyborg. Quer dizer, seria possível chegar a um futuro onde poderíamos criar organismos híbridos. O orgânico e o tecnológico dariam forma a seres humanos mais avançados.

Seja como for, hoje grandes empresas de tecnologia já estão lançando as bases da inteligência artificial. A mente estendida e “portátil” é um recurso básico para equipar os robôs com a capacidade cognitiva para se moverem em determinados cenários.

No entanto, como aponta o neurologista Antonio Damasio, a inteligência artificial nunca poderá ser comparada à inteligência humana porque lhe faltará um elemento essencial, básico e determinante: as emoções.

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